É fevereiro, mês dos novos universitários, os calouros. Tem duas calouras na minha família que, se não são as primeiras a entrar em um curso superior, são as primeiras a precisarem de deslocamentos maiores para chegar na universidade escolhida, que fica em outra cidade. Enquanto os pais se inquietam com as meninas que se afastam, as próprias meninas florescem, brilham, rejubilam. A família é ótima, amo vocês, é importante se sentir protegida, mas a independência… Ah, a independência! Que energia boa ela nos traz!
Só pode ser um instinto ancestral, daqueles que herdamos dos primeiros Homo sapiens, um instinto que pede que saíamos de casa, que aprendamos a andar sozinhos, a explorar outros territórios (você um dia vai precisar encontrar o seu território, não vai?), a identificar amigos e inimigos. Quando o Homo sapiens do século XXI sai da caverna familiar para se arriscar no mundo, submetendo-se à força primeva do instinto, a natureza reconhece a vitória e libera essa alegria toda que vemos nos calouros sorridentes, ansiosos pelo mundo.
Os pais sabem bem porque se preocupam, porque se emocionam. É por temer os perigos, antecipar as vitórias, comemorar os avanços. Certo, certo, mas acho que tem mais. Pelo menos para mim tem.
Este é um daqueles momentos que marcam o passar do tempo. O jovem que sai de casa e que desfila sua ansiedade e liberdade em novos territórios está enterrando uma criancinha que os pais amavam tanto. Amam ainda. “Para mim, você vai ser sempre o meu bebê.” Onde está o bebê, onde está a criança? Em centenas de fotos e no coração dos pais e avós e até vizinhos que os conheceram. A saudade que sinto dos meus filhos pequenos é quase um luto. Aquela voz doce não existe mais, nem aquele cheirinho gostoso, nem aquela pele macia. Portanto, a criança não existe.
Cada nova fase, cada novo progresso da criança (que é um progresso dos pais também) empurra os mais velhos para o próximo quadrado desse jogo de tabuleiro, cada vez mais distante do primeiro quadrado, aquele que diz “início”. Eles crescem, nós envelhecemos.
Nada a fazer quanto a isso. Esse meu chororô é só uma constatação que compartilho com aqueles que também constatam o óbvio.